sábado, 21 de abril de 2018

Evolução do American Staffordshire Terrier

Evolução do American Staffordshire Terrier
O homem e o cão vivem há séculos num processo progressivamente elaborado de tal forma que cada vez mais encontramos características humanas no cão e, para os que se envolvem com eles notamos uma compreensão sutil da natureza canina.

O cão passou a participar ativamente de inúmeras atividades do ser humano e ocupar funções importantes na sociedade. São milhões de cães no globo terrestre exercendo funções que começam com uma simples companhia para pessoas solitárias, auxiliares no esporte da caça, no descobrimento de drogas ilegais e outras delegações policiais, guias de cegos, no socorro de doentes em situações específicas como em pacientes com risco de coma diabético ou suscetíveis de convulsões, na guarda territorial protegendo a família, na proteção pessoal contra assaltos e sequestros vigiando dentro do carro, na melhora de sintomas psiquiátricos em crianças com déficit cognitivo ou afetivo, enfim, são tantas atribuições que os homens deram nesses anos aos amigos de quatro patas que percebemos que não existe outro animal que tenha o quilate de sua dimensão para nós.
Considerando que os cães são sensíveis e inteligentes mas não possuem a capacidade de falarem precisamos notar o significado de seus gestos. No últimos anos cresceram as informações a respeito de formas de tratar ou recuperar vícios comportamentais nos cães. programas televisivos, livros didáticos e vídeos mostram técnicas. Cursos de adestramento dos mais variados. O homem passou a se interessar por esses temas. O cão de animal relegado a segundo plano e tratado como um ser que deva ficar no fundo do quintal comendo restos de comida ou amarrado numa corrente passou a ser melhor compreendido e respeitado pelas pessoas cultas e amorosas. Por cultura entendo a capacidade intelectiva de perceber o que é importante nessa vida e uma delas é respeitar todos os seres vivos.
Eu falei de várias funções nobres que o homem aperfeiçoou nos cães. Mas infelizmente a natureza humana é complexa e existe dentro de nós um lobo e um cordeiro. Nós podemos desenvolver virtudes mas também descermos até as profundezas da maldade e da ignorância levados pelos nossos instintos mais primitivos e mórbidos. Alguns homens tiveram a idéia de usar o cão para vencer o touro numa luta. Pareceu convidativo ver um cão pequeno destruir aquele animal imponente e poderoso. Os ingleses entendem que isso ocorreu porque a sociedade da época estava esmagada pela monarquia e sublimava assim a sua agressividade. Ao contrário do toureiro que vence a sua covardia escondendo a lança atrás de um pano vermelho iludindo o inimigo inocente, o rinheiro usa a sua covardia escolhendo um representante para sublimar suas necessidades destrutivas. Na Inglaterra do século dezenove os homens buscavam cães que fossem exímios nessa tarefa. Vários cães foram utilizados e se destacaram os cruzamentos envolvendo o Old English Bulldog e outros cães que pudessem ter essa aptidão. Como o Parlamento ingles proibiu essas lutas o homem migrou a sua neurótica obssessão para as lutas entre os próprios cães. Os cruzamentos utilizando os bulldogs geravam cães com mordedura de ótima pressão e coragem mas havia a necessidade de incrementar a agilidade, rapidez e tenacidade. Cães terriers foram experimentados. Para esse grupo de cães havia a denominação de bulls and terriers.
Quando no final do século dezenove uma pessoa chamada Chauncy Bennet levou para os USA os cães que eram denominados de pitbulls mas não conseguiu reconhecimento do american kennel club. Ele fundou o United Kennel Club e um dos critérios para um pitbull ser aceito era vencer tres lutas. Em 1936 esses cães, depois de um paralelo processo seletivo por outros criadores afastando-os das lutas surgiu a possibilidade de reconhecimento desses cães que eram de nominados de American Pitbull terrier. Foram estabelecidos certos padrões físicos como uma meta seletiva. Assim a aceitação do AKC fez nascer o American Staffordshire Terrier. Nessa época ambos eram o mesmo cão. O pitbull e o AST. Mas o tempo foi dando um aspecto diferenciado na compleição física, cabeça, beleza e temperamentos mais equilibrados que passaram a ser uma meta para cães que seriam também usados para shows ou exposições. O AST é uma evolução do AMPT.
Todo o American Staffordshire Terrier iniciou como um pitbull mas vem sendo aperfeiçoado desde o início do século passado e, aos poucos foi deixando para trás as características que eram enaltecidas nos cães trabalhados para as rinhas. Ou seja, o American Kennel Club estabeleceu em 1936 os pontos importantes no físico e na mente desse cão que passou a se chamar AST. O pitbull continuou existindo mas sem esses crivos e exigências. O AST conserva a coragem e tenacidade original, mas passou a ser cada vez mais tolerante e sociável com outros cães. Isso vale para a maior parte dos americans que são socializados desde cedo. O American Staffordshire Terrier passou a ser um pitbull com "controle de qualidade". É uma distorção da natureza um animal odiar seus semelhantes e desejar destruí-los. Esse comportamento ruím foi fixado pela seleção psicótica do homem. E um criador sério a partir de 1936 passou a fazer o contrário. Por isso hoje temos americans passeando nos parques. Mas para as pessoas que temem essa herança eu lembraria que todos os cães tem parentesco com os lobos e nem por isso devemos imaginar que assim seja o seu comportamento. Um bisturi pode salvar uma pessoa nas mãos de um cirurgião ou matar nas mãos de um assassino. A agressividade bem usada pode ser uma virtude se bem sublimada. A coragem de um american pode salvar a sua vida ou proteger a sua família. 
No meio de tantas raças com suas características peculiares optei pelo American Staffordshire Terrier. A coragem e rusticidade do mesmo. Sua resistência e beleza. Sua fidelidade e força num espaço físico pequeno seriam os meus motores iniciais para buscar a raça.
Mas com o tempo o homem na sua ânsia de vencer exposições foi dando mais ênfase a características de beleza e apresentação em detrimento da coragem e força num corpo compacto e pequeno e sua tolerância para o aumento das dimensões dos americans foi mudando o aspecto inicial. A raça virou moda e a população da raça explodiu no mundo todo. O AST em boas mãos é uma jóia mas em mãos de delinquentes é uma arma. Ele tem dentro de si um condicionamento que está em sua memória genética. Com o ser humano é dócil e amigo. Geralmente possui aptidões para a guarda conforme a linha genética mas com outros cães normalmente é intolerante quando não os conhece. Por isso precisa ser apresentado para outros cães desde pequeno e assim entender que não são seus inimigos. Com o tempo os criadores criteriosos lograram êxito em ter belos americans com temperamento equilibrado. Mas isso só se consegue no decorrer dos anos. Precisei de muitos anos criando para entender e saber interagir com essa raça. 
O segredo, no meu entendimento é a socialização precoce. Quando ouvimos algum comentário temeroso sobre a raça é porque não a conhecem. Em mais de vinte anos criando e um dos pioneiros da raça no Brasil percebo que pelos comentários que recebo das pessoas por todos os cantos do pais que nunca ocorreu um ataque a algum familiar ou amigo. Isso até poderia ter ocorrido pois qualquer cão pode morder por algum motivo que poderá fugir ao nosso controle. Nunca um american me mordeu ou algum dos meus filhos ou algum dos meus amigos. Minha esposa uma vez foi mordida na mão por uma cadela que havia sido separada de sua prole e ficou nervosa por estar solta no pátio sem eles e escutando o choro de filhotes de uma outra ninhada. Minha mulher levantou de madrugada e pegou um desses filhotes chorando e essa femea entendeu que ela estava machucando seu filhote quando na verdade nem era o seu. Foi uma questão de manejo e infelicidade momentanea e não uma regra.  Creio que se eu tivesse ido lá de madrugada não teria acontecido nada. Sei que foi um ato isolado e precisamos entender o processo como um todo. Quando recebo amigos e até crianças não prendo meus americans na grande maioria dos casos. Gosto de mostrar o equilíbrio sos meus americans. As pessoas ficam encantadas ao visitarem meu canil pois ao percorrerem os boxes individuais não escutam uma manifestação de agressividade e existe um silêncio no canil. Mas eu me sinto tranquilo ao soltar os casais que escolho para cuidar do terreno. Não consigo dormir tranquilo se nenhum american estiver solto. São os meus sentinelas.
Desde cedo nós tratamos os filhotes com amor e conversamos com eles. No toque e nos gestos eles cedo aprendem a serem tranquilos e não temerem. O temor, o medo são os alimentos da agressão no meu entendimento. Pelo medo de morrerem pelo cão opositor nas lutas é que que desenvolveram a agressividade contra o seu igual. O combustível da agressão é o medo da morte que alimenta a luta pela sobrevivência. Quem recebe amor se desarma. É nosso papel realizar o descondicionamento. Essa é a nossa filosofia no manejo psicológico dos americans no Campo de Força (Kraftfeld).

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