terça-feira, 29 de maio de 2018

A convivência do American Staffordshire com crianças!

A convivência do American Staffordshire com crianças!

Muitos me perguntam como o american se relaciona com as crianças. Alguns dizem ter filhos pequenos. Esquecendo a raça AST e pensando no comportamento animal de um modo geral, percebemos o quanto a convivência, o contato harmonioso e afetivo repercute na ligação que os mesmos desenvolvem conosco.
Foi assim no início com o lobo que gradualmente, na busca de alimento, percebeu que obtinha vantagens e não corria riscos ao se relacionar com o homem. Essa relação que iniciou há séculos e foi aprimorada pela seleção humana gerou a série de raças que hoje conhecemos.

Interessado em selecionar conforme a tarefa e suas demandas o homem escolheu os melhores para a caça de animais pequenos e rápidos, animais que se escondem em tocas, animais perigosos e agressivos, aves e outros. Escolheu também para a guarda de suas propriedades e nas caravanas proteger seus pertences ou avisar de inimigos principalmente a noite. Foram selecionados cães para levarem animais para a direção desejada, recuperar cabeças de gado perdidas, conduzir rebanhos e todas as tarefas possíveis numa fazenda. Não satisfeito com isso selecionou e treinou animais para conduzir cegos, procurar drogas ilícitas pelo olfato e assim ajudar as equipes de investigação e atuação policiais.

Dezenas de outras tarefas foram obtidas pela seleção e hoje vemos vários cães se destacando em salvamentos e até na deteção de um quadro de hipoglicemia ou convulsão de seu dono e saber como pedir socorro ou buscar um medicamento. Outro dia soube de uma american no RJ que observando o comportamento dos salva-vidas começou a levar a corda para alguns banhistas em dificuldades.


Todos os cães são a priori ótimas companhias para as crianças. Porém alguns são muito agitados, latem demais e me parecem neuróticos. Outros são grandes demais e num movimento brusco até de um rabo grande podem machucar o rosto de uma criança pequena ou a derrubarem. Outros são pesados demais e mesmo sendo delicados com as crianças podem inadvertidamente empurrarem ou deitarem em cima da criança. Alguns que aparentemente tidos como graciosos e repletos de pelos brancos que as donas colocam fitinhas muitas vezes pelo seu grau de irritação podem morder uma criança. Já escutei muitos relatos de casos assim com poodles e outros tidos como inofensivos.

O american staffordshire terrier é um cão de porte médio e pelo curto. Brincalhão e extremamente afetivo com pessoas da casa. Chega a ser afetivo até com estranhos na presença de familiares pois reconhece que estão sendo aceitos. Mas se o forasteiro entrar sozinho na propriedade o american enfrenta com brio.




Se o homem consegue criar um leão que é um animal selvagem, ao contrário do cão que é domesticado, e torná-lo amistoso (apesar de poder ocorrer um acidente num momento de comportamento selvagem atávico) imaginem com um cão que cresce junto conosco e só recebe afeto. O american é rústico e forte. Por ser de porte médio é fácil de se levar para passear no carro e, por adorar uma brincadeira será o melhor presente que poderíamos dar para uma criança. Será quase uma certeza encontrar nosso filho ou filha dormindo com o american pois vendo a criança dormindo até o american fica com sono e deita ao lado.


O american foi associado erroneamente aos primeiros american pitbull que foram treinados para a rinha de cães no final do século XVIII. Há mais de um século o homem não condiciona o american para essa finalidade e isso aconteceu principalmente quando os americanos separaram as duas vertentes. O american pitbull terrier (mal visto pelos americanos no princípio do século XX) e o american staffordshire terrier que passou a ter regras de fenótipo e temperamento que a partir de 1936 foi reconhecido pelo AKC e pela FCI. Assim, gradativamente a raça foi sendo afastada desse preconceito em razão de seus antepassados condicionados pelo homem e hoje a raça é uma das mais registradas no mundo, apesar de ainda ser confundida e mal interpretada por ignorantes. Os mesmos que acham que o negro é inferior ao branco, que o homem é mais inteligente que a mulher, que o homossexual é inferior ao heterossexual e que o chifre do rinoceronte é afrodisíaco. O preconceito é irmão da ignorância.

O cão, pelo tempo que convive com o ser humano adquiriu muito de nossas qualidades, capacidades e também alguns defeitos. Existe um processo quase simbiótico. Uma osmose insconsciente eu poderia me aventurar a criar como termo explicativo. Notamos que pessoas que convivem de forma extremamente intensa com certos cães desenvolvem um tipo de comunicação que parece gerar no cão um entendimento de seus pensamentos e estados emocionais em razão de gestos, uma troca de olhares e pelo uso de palavras. Ou apenas por algo mais profundo que é a linguagem não verbal.



A mesma que nos faz perceber que alguém é confiável ou não. Ou que está nos enganando. Que gosta do nosso jeito. Ou que nos inveja. Aquela linguagem que se transforma em intuição. Quando eu caminho a noite em direção do canil os 36 cães não latem. No escuro conhecem meus passos. Uma vez a noite um caseiro novo desceu e foi um alvoroço. Quando eu faço ruídos estranhos imediatamente reagem. Nunca subestime a inteligência ou a percepção de um american.

Vou contar um fato que ocorreu com meu avô que era caçador na minha cidade natal, Caxias do Sul. O perdigueiro dele faleceu. Para continuar caçando perdizes naquelas terras onde seguia com seus amigos perto da cidade de Caxias do Sul e também Vacaria precisava de um outro cão bom de caça. Um amigo o presenteou com um mestiço de perdigueiro com bulldog (daqueles antigos que lembram o campeiro). Ele não pensou em treiná-lo para caçar até que observou como se comportava conduzindo as galinhas para o galinheiro após notar como meu avô fazia e aprendera observando. Isso chamou a atenção do nôno (modo como tratava meu avô italiano). 
Um dia o nôno começou a treinar o Sol com uma bolinha de meia de mulher enrolada. Ele aprendeu logo a buscar e trazer delicadamente a bolinha. Sua inteligência era marcante e logo foi conduzido para sua primeira caçada. O Sol observou como os outros perdigueiros "amarravam" a perdiz e ficavam parados para logo em seguida ao tiro certeiro buscarem a mesma trazendo para seu dono. O nôno estava com mais 5 caçadores. Logo o Sol fazia a tarefa de um perdigueiro. Mas havia algo diferente dos outros. Era excepcionalmente inteligente. Quando o nôno dava 3 tiros seguidos e matava 3 perdizes seguidas ele, ao contrário dos outros perdigueiros  não pegava só a última ou uma delas. Ia buscar uma a uma na ordem.
Mas o máximo aconteceu um dia. A tarde já os encontrava cansados e por isso resolveram retornar para a fazenda. O astro rei já se escondia no horizonte laranja. O nôno chamou o Sol para não pegar uma perdiz que havia caído num lugar de difícil acesso. Seguiram cansados em seus cavalos em busca de descanso e de um bom chimarão. Quando chegaram na cabana da fazenda sentaram e começaram a contar o resultado da ótima caçada.. Eram 52 perdizes. Um deles disse: seriam 53 se o Filippini tivesse trazido aquela perdida. O nôno disse: se quiserem eu mando meu Sol ir lá buscar. Eles começaram a rir. Além de não ter como entender o comando a distância era muito grande. Quilômetros. Seria impossível. O nôno não gostou muito da incredulidade e encarou como um desafio. Levantou, chamou o Sol e disse em tom enérgico e determinante enquanto seu indicador mirava a direção provável: busca a perdiz!!!
O Sol saiu correndo e sumiu no meio do campo. A noite tomou o horizonte com sua negritude e mistérios e só as estrelas assistiram a aventura desse mestiço. O tempo passou e nada do Sol. O nôno começou a ficar preocupado e os amigos mostravam a certeza que a missão seria infrutífera. Depois de duas horas uma respiração ofegante se ouvia próximo ao galpão. Sol tinha uma perdiz na boca e sacudia o rabo para meu avô. Estava sujo de barro mas seu espírito era limpo como um guerreiro fiel ao rei. O nôno se ajoelhou e abraçou o Sol. Os amigos não sabiam o que dizer. Essa história foi publicada no jornal Correio do Povo e os nomes das testemunhas estavam na reportagem. Todas as vezes que o nonô contava essa e outras histórias do Sol ele enxugava as lágrimas. Foi seu melhor cão de caça.

Em 26 anos criando a raça American Staffordshire Terrier nunca tive um caso de agressão a uma criança em mais de 1 mil americans enviados pelo Brasil todo. E creio que isso só acontecerá um dia se aqueles que interagirem com o AST o neurotizarem a ponto de o tornarem psicótico. Como deixando preso numa corrente, batendo, tratando mal, separando do convívio humano e o tornando semelhante a si próprios pois não é da índole do cão agredir seu dono ou uma criança inocente, mas é da natureza humana destruir, magoar, ferir e desrespeitar. Colhemos o que plantamos na vida. E também com nossos relacionamentos, sejam humanos ou com os animais.


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