Nos primórdios da seleção dos pitbulls a conchectomia era feita porque o oponente numa rinha costumeiramente mordia essa região o que causava sangramento, sofrimento, debilidade e possibilidade de perder a luta. Isso era crueldade com os cães e, felizmente essa carnificina foi proibida na Inglaterra e, talvez deva ser ainda praticada em muitos países na clandestinidade. É um crime.
Quando o American Staffordshire Terrier se tornou reconhecido como a variante reconhecida do American Pitbull Terrier nos USA foram estabelecidos critérios para que assim fosse e todos ligados ao padrão da raça para poderem participar de exposições de beleza junto ao American Kennel Club que estaria ligado à FCI. No Brasil teríamos a CBKC.
Nesse padrão da raça está escrito referentemente às orelhas que quando as mesmas não estivessem postadas em rosa deveriam ser cortadas. Desde 1936 os criadores no mundo todo convivem com essa realidade. Mas, em razão dos movimentos de proteção animal que possuem uma força marcante nas decisões políticas ocorreram leis proibindo essas práticas. Nos USA, como na maior parte dos países, essa prática é ainda permitida. No Brasil está proibida desde 2008. O veterinário que for denunciado sofrerá punição do Conselho Federal de Veterinária. Isso fez com que poucos veterinários mantivessem esse procedimento em suas práticas. Não vale a pena correr esse risco.
A punição para quem injuria um animal no Brasil é maior do que se fosse cometido esse mesmo ato num ser humano. Foi o que me disse um promotor. Se isso é certo ou errado não cabe discutir, mas é a lei, foi sua complementação.
Diante dessa realidade, se a pessoa mora no Brasil, não deve realizar a conchectomia pois o entendimento é de que seria uma terrível injúria a um cão. Crio há 30 anos a raça, sou o criador mais premiado na história da raça no Brasil junto à CBKC. Mas ninguém perguntou minha opinião quando votaram essa lei. E creio que tanto os demais criadores, tanto os órgãos da cinofilia e veterinários também não devem ter sido auscultados. E se foram o que pensaram foi desconsiderado. Creio que no dia que foi votada essa lei, caso eu estivesse presente para discutir o tema haveria chance dessa lei não existir na forma como foi aprovada.
Para um leigo no assunto essa lei é totalmente aceitável. Afinal de contas porque cortar as orelhas de um animal? Porque o criador não corta as suas orelhas para ver como é ruim? Essa pergunta li uma ocasião numa mídia social. Mas a questão é mais vasta e complexa.
Na minha concepção esse procedimento deveria ser permitido apenas para cães que participassem de exposições e com um laudo do veterinário, ou seja, feitos apenas nas condições ideais de uma clínica veterinária. Isso evitaria o corte clandestino e sem os cuidados que possam gerar complicações para o cão. Seria uma forma de controlar sem impedir a prática.
Se formos olhar as raças cujas orelhas sempre são deixadas ao natural veremos que suas posturas são harmônicas. Mas em raças como o AST a postura das orelhas são variadas e algumas vezes esteticamente horríveis. Uma em pé e outra deitada. Grande e em pé como se fosse um coelho. Uma torta e outra ereta. E assim por diante. Isso não acontece num pastor alemão por exemplo. Por isso que o padrão da raça colocou a conchectomia como indicada nos casos das orelhas não serem postadas em rosa.
Dizer que a conchectomia (um procedimento fácil, rápido, sob anestesia e que após o procedimento o filhote já abana o rabo) é uma injúria me faz pensar o que seriam então os procedimentos permitidos que se façam no ser humano que são extremamente mais injuriosos e perigosos: lipoaspiração, cirurgias de mama, abdominoplastia, redução de formas físicas das mais variadas e todos os tipos de cirurgias plásticas que são feitas principalmente nas mulheres todos os dias. Eu sei que não é o cão que decide fazer uma conchectomia mas confesso que se eu fosse um american desejaria que fizessem em mim uma conchectomia caso minhas orelhas fossem irregulares. Muitos artigos revelam que as orelhas eretas permitem uma ausculta melhor e isso seria interessante na função de guarda de território e outras onde a audição aguçada seria pertinente.
As leis feitas pelos homens variam muito conforme o país. Não são perfeitas mas precisam ser respeitadas. Mas podem ser aperfeiçoadas. Mas creio ser difícil que com tantas questões mais importantes a serem tratadas haja algum movimento visando alterar essa lei. É uma lei como tantas outras que foram construídas sem uma análise plena. Creio que o Brasil seja o único país do continente a proibir a conchectomia. Ou somos os mais sábios ou os mais obtusos.
Meu conselho: mude de país ou te acostumes a gostar das orelhas íntegras não importando como sejam. O American Staffordshire Terrier está acima dessas polêmicas e sua alma reverbera em nossas vidas independentemente desse detalhe anatômico. Viva em paz com essa jóia que soma em sua existência, um cão maravilhoso e único. E evite a conchectomia pois a qualquer momento uma pessoa de mal com a vida, ignorante ou mal intencionada poderá querer te prejudicar. Normalmente essas pessoas irão agir de forma escondida, às escuras, como fazem todos os covardes.
Enquanto isso o AST corre no pátio feliz e te procura dando o afeto irrestrito que o ser humano raramente te oferece.